terça-feira, 5 de maio de 2009

RITOS FÚNEBRES BANTO (2)

RITOS FÚNEBRES BANTO (2)
Continuação da página 1


O MUILA

Quando ocorre uma morte, o cadáver é encostado aos paus da libata, sendo colocada do outro lado uma esteira, para o resguardar, e ali fica durante pelo menos dois dias, não se realizando o funeral sem que se reuna a família que, por vezes, vem de longas distâncias.
Quanto ao funeral, propriamente dito, há a considerar o dos pobres e o dos ricos;
No dos pobres, vai o cadáver a enterrar sem qualquer cerimónia, embrulhado numa manta e amarrado a um pau, para o poderem transportar.
No dos ricos, e como já se referiu, o cadáver demora mais tempo a ser enterrado, para dar tempo a que toda a família se reuna ou, pelo menos, se reuna grande número dos seus membros. Em geral o rico, em vida, escolhe uns bois, normalmente em número de quatro, para as cerimónias do seu funeral. Desses quatro bois, dois são destinados à venda, para, com o seu produto, serem compradas as bebidas, tais como vinho, macau ou outras, e as roupas para o enterro, um outro para ser consumido dois dias depois do funeral e o último para aproveitarem a pele para embrulhar o cadáver, não sendo aproveitada a carne deste.
Para o enterro, o cadáver é embrulhado em duas mantas e três cobertores, sendo então envolto com a pele do boi escolhido para o efeito.
Ao embrulharem o cadáver, os muilas deixam os pés de fora e amarram o couro do boi por cima da cabeça, completando o embrulho com fitas extraídas de cascas de árvores, prendendo-o então a um pau que servirá para o transportar.
Normalmente, escolhem o trajecto para o cortejo fúnebre por forma a passar pelas casas das pessoas de família e para as despedidas. No percurso, em geral descansam uma vez entre a casa do morto e o cemitério, sendo nesse local que o herdeiro, mais tarde, construirá o "Tchoto" - coberto que serve para reuniões e fica ao centro do "eumbo" - onde se realizará a festa do "kuricutila", que adiante se descreverá.
Durante o percurso para o cemitério, vai um homem velho à frente dos que transportam o cadáver, perguntando quem foi o causador da morte, indicando nomes e deitando fora uns pós. É crença que, se o velho acertar no nome do causador da morte, o cadáver se deslocará para a frente, impulsionando os transportadores, dos quais o mais avançado irá embater no velho.
Uma vez no cemitério, pousam o cadáver no chão e abrem a cova. Pronta esta, retiram o pau que serviu para transportar o cadáver e cortam-no em três pedaços, os quais são postos dentro da mesma, por forma a que um sirva de travesseiro, ficando os outros dois um de cada lado. O cadáver é então colocado na cova, de lado e com os pés virados para nascente, após o que cada um dos presentes lança um pouco de terra sobre ele, formulando o seu desejo, que em geral é referente ao espírito do morto. Tapada a cova, colocam sobre a sepultura ramos de espinheiras, para evitar que os animais carnívoros desenterrem o cadáver.
Os Muilas têm o culto dos mortos. Têm-lhes respeito e temem as suas almas. Se, durante o funeral, o adivinhador tiver dito que a morte foi causada por feitiços, ficam com receio de que o morto volte, para fazer mal às pessoas e gados. Este um dos motivos porque promovem festas - em especial a do Kuricutila - destinadas a contentar o morto, por forma a que não volte para fazer mal, dado terem a convicção de que a alma do morto volta sempre, umas vezes para fazer bem e outras para fazer mal, acreditando que volte para fazer mal se, durante a vida, esteve doente e não foi tratado pelo Quimbanda. Para fazer bem e proteger as pessoas da família voltará se, em vida, foi bem tratado enquanto doente. Acreditam ainda que a alma volta em bem para que façam a festa do Kuricutila e, se uma mulher que não tem filhos está doente, para que esta os possa ter, originando a celebração de uma festa, na qual o morto, através da sua alma, indica ao Quimbanda qual o tratamento a fazer.

O BURUNDI
Durante os dias de lamentar, a família experimentada como também os vizinhos vivem em um tipo de paralisia. Tudo o que faz beleza pensa deve ser escondido. As mulheres escondem os colares de marfim deles, as pulseiras fizeram de cobre. Para a morte do rei, os maridos não se deitam mais com as esposas deles e a pessoa separa as vacas dos touros. A família lamentando como também as paradas de vizinhos o trabalho dos campos, o arado. Não é necessário especialmente plantar qualquer coisa.
Vida é ameaçada pela proximidade da morte. As mulheres grávidas tiveram que evitar ver um morto ou conhecer um cortejo funerário. Antes do funeral, a pessoa esfrega uma espécie de manteiga em algumas partes do cadáver (como a testa) enquanto dizendo: "seja nós auspicioso, não nos amaldiçoe, adeus." A pessoa recupera o medo da morte, uma súplica de forma que qualquer coisa de dor não chega depois da morte.
Está na hora do término de lamentar aquele se purifica ao máximo apagar todo o rastro de morte e permitir vida assim para levar. Os membros da família vão cedo para o vale e as pessoas se lavam.
O rebanho de vacas também tem que ir para o vale e tem que adquirir a liberdade dos germes de morte. A pessoa é clareado e besuntada da terra branca (cor favorável). A pessoa leva as louças inteiras e tudo é lavado. A pessoa põe materiais novos e o fogo novo, símbolo de vida é alumiado. A pessoa mais nunca pronunciará o nome do morto. Se um vizinho levar o mesmo nome, ele tem que mudar nome. gucuza, pronunciar o nome de um morto vem de uma intenção malévola. É chamar o infortúnio.

O HIMBA
Os ritos de morte ou funeral é denominado Omu-Koti, enquanto realçando entre todos os eventos sociais do himba, podendo acabar transformando em hecatombes autênticas no caso da morte de um chefe de cidade poderoso. A duração do funerário está com relação à riqueza no gado do defunto, porque expressando a coisa rica é entre os objetivos do funerário que tinha acabado sendo. Para acompanhar o ritmo das canções, você não pode usar o mais ou menos, com exceção de quando o defunto é um otjimbanda cujo funeral que requer de lamentos mais espetaculares. No momento é enterrado ao morto em posição de decúbito supino embrulhada na pele (otjinguma) do boi favorito (ohivirikua) deles. Antigamente o corpo era enterrado em posição sentada com as reuniões de pernas. A distância da cidade e o cemitério (oma-langalo) que pode ser mostrado por algumas estacas de madeira. Nas tumbas são colocadas pedras. O himba não tem flores, por isso eles colocavam mudas de árvores nas tumbas dos antepassados deles. Os chifres dos bois sacrificados na honra deles são assunto a alguma próxima árvore. A carne do gado sagrado não pode ser comida por respeito ao defunto, porque eram animais querido para ele. O gado sagrado é morto no campo e é como se enviasse o espírito destes animais sagrados para a eternidade, junto com o defunto. Se quem morre é um menino ou menina, não se faz funeral em outro lugar e os parentes deles e amigos chorarão dentro das cabanas deles. Ao segundo dia mata o pai um boi não sagrado e todas as pessoas vão comer. Se o menino é muito pequeno ele não é enterrado no cemitério, mas no curral das carnes de vitela, no mesmo centro da cidade e ele não fica lamentando (que consiste para o homem em descobrir o cabelo, enquanto levando isto ao ar sem cruzar. O colar é levado com algumas voltas de menos).
Ao menino é embrulhado em um couro de ovelha (ondikua) na qual a mãe leva ao menino. Quando o pai comunica à mãe da esposa dele que o neto dela morreu, ele paga uma carne de vitela (ondema di ongombe) ao tio da esposa (que é considerado mais que a mãe). Deste modo o eanda de mãe é reforçado. Se quem morre for uma mulher (omukadendu di kuapanyara), o funerário dela acontece próximo à própria casa deles ou próximo à casa do pai dela. Eles sacrificam no campo entre um e quatro bois. Os chifres adornarão a tumba e a carne das cabeças serão comida para afastar as pestes. A cerimônia principal consiste na entrega do ekori do defunto (esfole touca) que o viúvo deveria dar, além de um boi para a sogra dele ou uma irmã se que já não viveu. Os bois da mulher não são disputados porque eles correspondem a herança do filho deles. São colocados os chifres dos bois, sacrificados pelo marido na honra da mulher, próximo à casa do defunto. Os chifres são esfregados com kidé (o pó vermelho com que as mulheres são ungidas). No funeral eles são levados para o cemitério e eles são colocados próximo à tumba delas. Os objetos são pegados pelos familiares inteiros, fora os colares e depois que termina o enterro, o pai da mulher mata um boi e todos participam da comida. Eles vestiam os colares novamente, mas agora eles são colocados alongado, são pendurados no tórax e não são batidos ao pescoço. Se a mulher morresse pela manhã, ela era a enterrada pela tarde, e se ela morresse pela tarde, era enterrada manhã seguinte. Antigamente era esperado que todos os parentes viessem antes do funeral, mas agora isto é feito antes do cadáver entrar em estado de putrefação. A diferença, no caso de um homem morrer, é que o lugar dos objetos colocados para o ritual era próximo ao okuruwo e não na casa. O lugar concreto se chama muvanda, entre a casa grande e o okuruwo. Os bois são sacrificados no otjoto onde eles serão cozidos e comidos. O boi favorito do rebanho sagrado do morto é imolado junto ao corpo que será enterrado embrulhado na pele do boi. No caso do morto ser o chefe de Aldeia cercada, as celebrações do funerário deles podiam alongar durante um mês, tempo durante o qual todos seus parentes e amigos participarão. Para tais rituais você pode acabar sacrificando mais de cinqüenta bois. Para a viúva o luto consiste em levar o colar pendurado com menos volta, tirar as decorações e as pulseiras de seus braços e cortar as decorações das pernas, só deixando um terço de sua longitude na parte central. Também levará os pêlos sujos. Passado entre seis e doze meses volte ao cemitério e mais bois (normalmente dois) são sacrificados. Durante três dias acontece uma festa na qual comem carne em abundância. De acordo com o himba, esta festa são os sinais do luto, para ajudar a fazer o espírito da morta feliz. A festa começa de amanhã entrando adiante em cortejo as mulheres, os homens entre os gados. As crianças estão na cidade. Quando eles chegam ao cemitério eram eles que punham brotos de folhas sobre as tumbas, em favor dos espíritos dos mortos e muitos gritos de felicidade.

O HUMBUNDO
Entre os costumes Humbundo, um dos mais complexos e detalhados, é o ritual da morte e a despedida e encomenda do espírito.
Manda a ética que, quando morre algum membro da tribo, se é encontrado por alguém que não seja parente próximo, a notícia seja dada ao mais próximo dos parentes, à hora de melhor disposição, que é a da refeição. Segue-se à notícia uma cena alucinante, pois mandam os mesmos preceitos éticos que o notificado, em demonstração de dor pública, exagere nas demonstrações de inconformismo.
Um mensageiro vai depois avisar todos os parentes, para que se reúnam na cubata do defunto tão cedo quanto possível, para dar início às cerimônias rituais de despedida do espírito. Nesse meio tempo, as mulheres vão preparando a Kissângwa - bebida obtida com um fermentado de milho ou massambala – que animará os vivos na vigília ao morto. Depois da chegada do último parente, reúnem-se em duas cubatas, homens numa e mulheres na outra, ficando na cubata em que está o morto, os do mesmo sexo.
Durante a noite inteira são entoados cânticos de despedida, que acompanham e alegram a subida do espírito, entremeados por histórias vividas pelo defunto, contadas pelos membros da tribo, à medida que delas se forem lembrando. Os animais que caçou, os bichos que teve, as viagens que efetuou, atitudes em que tenha se destacado. De madrugada tem início o óbito propriamente dito. O Onganga entoa um cântico fúnebre acompanhado pelo som dos batuques em tom contínuo e baixo, e pelo coro dos presentes, num gemido muito baixo, como que longínquo. Após as rezas de encomenda, o corpo enrolado em esteiras, em cortejo, é levado ao local de sepultamento.
No dia seguinte, todos os parentes em luto fechado, vão visitar de novo a campa, levando cada um, um objeto de uso pessoal do morto, para que, caso este, em espírito, sinta necessidade de voltar a usar um dos objetos, não necessite voltar à sanzala. Os objetos estarão em volta e sobre a campa.
O ritual torna-se por vezes bastante demorado, pois alguns parentes podem morar em Kimbos bastante afastados, acontecendo nesses casos e vigília, com o corpo em adiantado estado de decomposição.
Nem estado deteriorado do corpo, nem o mau cheiro inerente, alteram a urgência do ritual; o importante é estarem todos os parentes reunidos, a fim de melhor evidenciar o vácuo que o morto deixa com o seu desaparecimento.

O KIKONGO
Para o povo Muxito, da família Kikongo, a morte de um Soba era acompanhada de uma série de outras mortes, voluntárias , ou pelo menos encaradas com resignação estóica, de pessoas que deveriam acompanha-lo, para que no além túmulo ele pudesse continuar a gozar de determinados privilégios. Pela tradição morriam também a mulher mais nova, o conselheiro mais velho e o mais diligente dos serviçais. Caso o Soba, na agonia da morte, determinasse que queria outros acompanhantes além destes três, a sua vontade seria cumprida sem qualquer contestação. Este costume tradicional, foi dos que as autoridades coloniais mais tiveram dificuldade em combater, pois apesar da vigilância exercida, durante muitos anos a morte do Soba continuou mantendo todos os preceitos tradicionais. Escondiam-se nos lugares mais inacessíveis, para levar o ritual a efeito.
Dos últimos casos em que se teve conhecimento oficial dessa prática, foi no ano de 1926, quando da morte do Soba Mazeze.
Nesse ano, marcharam o Soba Mazeze e respetiva comitiva, para o Posto do Lucano, em visita cordial.
Nesse entretanto, deslocou-se ao Sobado, um sobrinho de Mazeze, Sobeta em território Congolês , que por sua vez ia visitar o tio. Como não o encontrasse, resolveu ir ele também ao Lucano, para lá cumprimentar o Patriarca.
As duas comitivas encontraram-se no caminho, estando já Mazeze de volta, e todos pararam para celebrar. A celebração demorou vários dias, em que foram consumidas expressivas quantidades de cabaças de Marufo ( fermentado de seiva de palmeira ), tanto pelos chefes, como pelos acompanhantes. Dada por finda a celebração, voltaram as diuas comitivas ao Sobado, onde Mazeze chegou já bastante doente. A despeito de todas as tentativas de cura por parte dos Tchimbandas, poucos dias depois o chefe morreu.
A autoridade colonial do Lucano, tendo tido conhecimento dessa morte, e sabedora dos costumes tribais, logo rumou para o Sobado, junto com um pequeno destacamento de Cipaios e Capitas ( forças militarizadas constituídas por homens de outras tribos, de apoio às administrações coloniais portuguesas ), numa tentativa de evitar o morticínio.
Mas o destacamento chegou tarde, várias pessoas já haviam morrido em conseqüência do ritual. Mas as autoridades não conseguiram apurar nada de concreto, pois o povo interrogado, limitava-se a responder que os personagens extras, tinham morrido por haverem tomado o mesmo líquido que o Soba, e não por qualquer outra razão. Como se disse acima, este costume foi dos mais difíceis de combater pelos colonizadores, e nada garante que esteja completamente erradicado, que ainda hoje não se pratique nos mais recondidos e inacessíveis lugares do mato, com a anuência de todos.

O GANGUELA
Entre os Luy, outro ramo do grupo ganguela, era bárbaro o funeral de um Soba.
O Soba, ddepois de morto e de ter passado todos os rituais fúnebres, era colocado na cova em que seria sepultado, junto com todas as pessoas que lhe tivessem sido chegadas em vida.
O sucessor, era investido imediatamente após a morte do chefe, por um dos secúlos do conselho de velhos, que o ungia com a ponta de uma lança, numa investidura muito semelhante à dos cavaleiros na Europa medieval. Terminada a cerimônia do sepultamento do Soba e respectivos acompanhantes, o novo chefe retirava com todo o povo para um novo local escolhido para Kimbo, ficando o antigo local para veneração, onde os velhos em determinadas épocas iam em peregrinação.

O CABINDA
Notemos desde já que ainda nos tempos de hoje lhes custa a aceitar a morte como natural. Para eles alguém a deseja, alguém a provoca, alguém quer mal ao doente ou à família.
Para a «confissão» os parentes juntam-se à roda do enfermo.
Aí, diante de todos, cada um por sua vez, terá de declarar se algum dia disse alguma coisa contra o doente ou se chegou, mesmo só no seu íntimo, a desejar-lhe mal. Não a fazendo, se o doente morrer, atribuirão a morte à não realização da «confissão» ou, se a tiver havido, deitarão as culpas àquele que tendo alguma coisa contra o doente a não declarou e, sobretudo, contra algum parente que não tenha comparecido. O faltoso será tido por ser o verdadeiro culpado, por ser o «comedor» da alma do extinto, o Ndoki.
Em outros tempos, este faltoso seria levado à prova da «faca quente» ou à da nkasa (a do veneno da «casca» - Erythrophloeum Le-Testui, A. Chev.) .
Mas, mesmo hoje, não deixará de ter de apresentar contas e chegará a concluir que a vida não lhe virá a ser muito longa, pois ainda conhecem muitas formas de desforra...
Nos tempos que correm ainda morre mais gente do que se pode calcular vítima destas e doutras desforras. São os naturais quem tal afirma.
Por isso os parentes correm de muito longe para se apresentarem na fiabiziana. Sendo-lhes absolutamente impossível comparecer não deixarão de apresentar, o mais breve possível, as verdadeiras causas da sua ausência.
Apenas alguém expira a sua morte será anunciada pelo pranto das pessoas de família ao qual se junta, como fogo que se atiça, o de toda a gente da aldeia. O berreiro é ensurdecedor.
Se a morte foi repentina ficam como loucos.
Acabado de morrer, era o defunto ou defunta lavada, rapado o cabelo da cabeça e cortavam-se-lhe as unhas o mais rente possível. Depois de bem limpo, vestiam-lhe os melhores panos e era embrulhado em mais ou menos cobertores conforme a dignidade do morto e família (20, 30, 40, 60, 70 e mais... ).
Vestido com o melhor que tiver e com o que foi, sobretudo, de seu gosto - vi mortos de capacete e com óculos escuros! - é colocado na cama ou sobre uma esteira, enquanto não tem o caixão.
Quase sempre, para que se permita ver a pessoa defunta e para que haja espaço suficiente, é tirada uma ou duas das paredes da casa. Não é difícil, uma vez que estas paredes são de papiros.
Mas já se não faz o mesmo nas casas de carácter definitivo.
As mulheres do defunto e as mais pessoas do sexo feminino que pertenciam à família rapavam a cabeça e quase se despiam totalmente. Esfregavam-se com carvão e, numa cantinela lúgubre, chorada, faziam o pranto. O pranto é contínuo. Traçam nele todos os factos de que se lembram da vida do falecido.
Nas aldeias do interior, os homens correm à floresta onde aparelharão, toscamente, as tábuas para o caixão. São quase sempre os homens da família que se encarregam deste trabalho.
Preparado o caixão, sempre no meio do mesmo choro cantado, é envolvido o morto em mais ou menos cobertores, segundo a dignidade deste e riqueza da família. É, depois, encerrado no caixão, que terá sido feito com o comprimento, largura e altura exigidas pelo número de cobertores que o envolvem.
O choro cantado dos da família, sempre contínuo, não significa somente dor - que a há - pela perda da pessoa falecida. Mas é também para afugentar os bandoki para que não venham buscar mais ninguém e para que a alma do defunto fique satisfeita.
Se o morto levar 30 ou 60 cobertores, mesmo finos que sejam, pode imaginar-se o volume e tamanho do caixão, E se este uso e gasto vai diminuindo, não se julgue que passou por completo.
É na morte e, sobretudo, no enterro que se faz ideia do que valia o falecido.
...Cada um dos cobertores que é envolvido nos defuntos levará um valente rasgão, ao meio. É para ninguém ser tentado a violar os caixões e sepulturas, roubando-os. Assim teria acontecido, outrora. Pessoas de família, à medida que vão chegando, oferecem cobertores e esteiras. Na medida em que o caixão o permite e o podiam prever, lá serão encerrados. Doutra sorte, metidos na sepultura. Se nada oferecessem, os da família, seriam interpretados como alegrando-se com a morte do extinto? Parece que sim.
É que também de lá, da outra banda, o morto ainda pode fazer mal aos que cá ficam!...
Exteriormente o caixão será revestido de cobertores ou panos até esconderem toda a madeira.
Com facilidade se reconhece, nos caixões dos cristãos, uma cruz feita do mesmo pano ou cobertor que envolve as tábuas.
Guardam hoje a lei das 24 horas. Passadas elas lá o levam a enterrar. Como em toda a parte, a dignidade do extinto ou a influência da família torna o acompanhamento mais ou menos numeroso.
Quatro homens - às vezes mais - pegam ao caixão. Seguram nas pontas de dois paus suficientemente fortes, colocados por baixo do caixão, um junto à cabeceira e outro para o lado dos pés.
Caixões de criancinhas muitas vezes os vimos serem levados à cabeça do pai.
Em outros tempos já afastados os funerais dos mais nobres revestiam-se de um aparato sem igual. Era verdadeira festa a roçar pela orgia.
Cantar, dançar, comer, beber em honra do morto era a melhor forma de o contentar e de fazer com que não venha fazer mal aos que ficam.
É que, conta e descreve Mons. J. Cuvelier, «quando morria um homem, a alma ficava separada do corpo. Esta separação durava enquanto o cadáver não era enterrado. A alma ficava junto do corpo para ver o que os membros da família e do clã faziam».
(J. Cuvelier, op. cit., pág. 114.)
Por que não era enterrado logo, necessário se tornava guardar e conservar o cadáver.
Para isso, ao centro da casa, abria-se uma cova de perto de dois metros de comprimento, por dois de fundo e um de largura.
A uns 60 centímetros do fundo, eram atravessados uns paus, horizontalmente, a fazerem de grelha. Em cima deles estendia-se um luandu e uma esteira. Aí se depositava o morto embrulhado nos cobertores. Quase à superfície colocava-se uma nova fila de paus, mais um luandu e uma esteira, cobrindo-se tudo com terra até ficar nivelada com o chão da casa.
Fazia-se, então, fogo por cima. Fogo aos pés e até ao peito.
Pelos maiorais da terra eram nomeados dois ou três homens que ficavam encarregados de manter aquele fogo dia e noite.
Eram os Ngulu-Nfumu.
Passados tempos este costume da cova desapareceu. Era o morto, então, colocado numa espécie de cama de pernas altas. O fogo era feito por baixo dessa cama-grade a que chamavam Kialata (pl. Bialata).
Outros usavam suspender o morto, horizontalmente, numa árvore fazendo-lhe o fogo por baixo.
Mas o costume mais conservado foi o da Kialata.
Procuravam defumar, antes aquecer e derreter pela acção do fogo, o morto e não o queimar, Logo que a acção do calor começava a derreter o cadáver, havia o cuidado de, com qualquer lata ou recipiente, recolher essa «banha» e derramá-la novamente sobre a parte superior dos cobertores que envolviam o morto. Nunca faltavam, em qualquer dos casos - cova ou kialata - os Ngulu-Nfumu.
Todos os dias e pelo meio dia um deles pintava com tukula o cobertor superior que envolvia o cadáver.
Este acto era anunciado a toda a aldeia pelo toque do ngongie - espécie de tímbalo de duas bocas.
O bula-ngongie - tocador de ngongie - locava a 1. vez para avisar. A segunda ninguém se poderia mexer do lugar ou posição em que o toque o apanhasse, até terminar a pintadela de tukula anunciada por um 3.1 toque.
Quem se mudasse ou falasse pagava uma multa. Havia para isso um encarregado de vigiar as pessoas. Era o mankaka, espécie de policia.
Depois do toque que anunciava o termo da pintadela voltava-se à vida normal.
Junto do cadáver estavam sempre as mulheres do defunto, as carpideiras e outras. No pranto perpassava toda a vida do morto.
Entretanto a família junta e prepara o que é necessário para o funeral. Enquanto se não realizava, o defunto ficava no «defumeiro». Lá podia ficar semanas, meses e até anos...
O Rei de Kakongo, morto em 1874, só foi enterrado em 1881!...
(Cf. Portugal em África, 1.8 série, ano 1896, pág. 116).
Juntam-se as bebidas, aguardente, vinhos licorosos, vinho comum, vinho de palma, etc., etc., e mais tudo o que vai ser necessário para as refeições de toda a gente no dia ou dias do funeral.
Chegavam a ir ao Ambriz, Luanda e até Benguela comprar as fazendas, bebidas, etc. para o funeral. O dinheiro para tudo isto vinha de parentes e aliados.
São serradas inúmeras tábuas e começa-se a construir o carro monstro que levará o caixão do morto.
De grossos paus faziam-se as rodas para o carro que levaria o caixão e os maiorais. Era ordinariamente de seis rodas, três de cada lado.
Pronto o carro e o mais, marca-se o dia do enterro.
Seria, por certo, no tempo do cacimbo, época em que o vinho é melhor e mais abundante - e todo é pouco! em que as terras estão secas e não haverá chuva a transtornar e dificultar o cortejo fúnebre.
Ê capinada, em linha recta e da largura do carro, toda a distância que vai da casa do morto à cova onde será enterrado.
E os grandes não vão para um cemitério comum. Escolhe-se um lugar especial. Já dissemos atrás que pode ter-se por muito provável que era em nome - do Nkisi-Nsi que se reservavam cemitérios especiais para os grandes chefes.
Organiza-se o cortejo. Os Zindunga, onde os havia, eram convidados e nunca faltavam. Não podiam mesmo faltar. Não comandam, regulam e vigiam o cumprimento das leis em nome do Nkisi-Nsi?
O morto, embrulhado naquela infinidade de cobertores, é metido num caixão, imagine-se o tamanho, e com mais ou menos feitios, segundo a dignidade do falecido. Por isso se diz: Lukata lumatumbi lumatatu: fumu ikanda - Caixão com três proeminências (feitios): caixão de chefe de família (rica, numerosa, poderosa).
A madeira do carro é coberta, totalmente, por cobertores e panos. Colocava-se o caixão no meio do carro, numa espécie de palanquim que tudo dominava.
No carro sentam-se os grandes da terra e os locadores.
Tem espaço para todos eles e ainda fica algum lugar para alguns rapazes novos dançarem.
No dia marcado eram os da terra os primeiros a arrastar o caixão. É puxado por umas quatro cordas, grossas lianas da floresta, levando em cada uma de 8 a 10 homens. Só para arrastar o carro... de 32 a 40 homens. Pode fazer-se ideia do tamanho e peso.
No dia seguinte começava a ser puxado pelos outros e por turnos até ao local onde se faria o enterramento.
Podia levar dois a três dias. Paravam com frequência para comer, beber e dançar por longas horas.
De noite havia sempre danças no local onde se parará o féretro. Todos, mas especialmente as mulheres, apresentavam-se com o melhor que tinham. Havia danças guerreiras, Os que nelas tomavam parte apresentavam-se em atitudes ameaçadoras. Com essas danças guerreiras pretendiam afugentar os espíritos maus, os bandoki.
O caminho aberto para a passagem do féretro chamava-se SAMBI.
As danças guerreiras, SANGA (estas danças passaram para as festas do MPOLO)
O arrastar do caixão, KOKA.
Os tocadores:
Ao meio, em primeiro plano, vão os tocadores de tambor, espécie de bombo - são os Basiki basiku.
Depois vêm os tocadores dos «marfins» (4 ou 6), os Bakama Banfumu. Segue o tocador de ngongie, o Bula Ngongie.
Vêm, em seguida, os tocadores de Katangala, espécie de caixa.
A frente do cortejo vão três bandeiras: uma de pano preto, outra vermelha e a terceira branca. A de preto, a do luto, vai ao meio. A esquerda, abaixo das outras, vai a bandeira vermelha, a da guerra.
A dominar vai a branca, a bandeira da paz.
Entre estas bandeiras e o carro seque toda a gente do povo e os que vieram ao enterro, tudo misturado, cantando e dançando.
Ainda atrás dos porta-bandeiras seguiam dois homens armados de espadas e tendo embrulhado à cinta um pano que deixava uma longa cauda de 2 a 3 metros. Eram os Mankaka, polícias.
Outros Mankaka, armados de espingardas, seguem ao lado do cortejo em atitudes ameaçadoras - ainda para espantar os bandoki e disparando de quando em quando.
Referindo-se a estes enterros no Ngoyo , J. Fernandes dizia: a alta posição do morto é que determinava a grandeza e magnificência das cerimónias que resultavam imponentes. Viam-se filas de tipóias em que eram conduzidos Príncipes e Princesas, titulares e Governadores de diversas terras (Nfumu-Nsi) tudo num deslumbrante conjunto de vestes, as mais variadas em cores e feitios. A ajuntar a tudo isso, ouviam-se os toques de mungi, ndungu-lingama, kula, cornetas, buzinas, mbuebo, baka, apitos, e isto no acompanhamento dos altos cânticos dos cordões de homens que iam puxando o caixão, em cuja varanda iam os que mandavam e dirigiam toda aquela manobra.
Na véspera da chegada do cortejo ao lugar em que o morto será enterrado, começa-se a abrir a cova. Uns dançam enquanto os outros cavam. Mas tanto os que trabalham como os que dançam, de vez em quando, param o trabalho e dança para comer, e beber...
Estão, uns e outros, besuntados com a terra da sepultura e só poderão tomar banho depois do enterro.
Tudo pronto chega o carro. É colocado por cima da cova. Por uma abertura que existe no meio do estrado do carro, é descido o caixão. Cobre-se a sepultura e ali fica o carro a atestar a grandeza do morto. Enterrado este, dança-se, come-se e bebe-se à volta da cova até pela manhã.
Em tempos muito arredados as mulheres do finado eram enterradas vivas na mesma cova. Para lá iam para lhe fazerem companhia e a comida além-túmulo!

«Com o cadáver, diz J. Cuvelier, enterravam mulheres e escravos que na outra vida deviam servir o defunto, levar água, lenha, comida ... »

Não se procedeu, mais ou menos assim, em 1881, quando foi enterrado o Rei de Kakongo? (Cf. Portugal em África -1.a Série-1896).
Não deixa de ter interesse o comparar estes «usos e costumes» de Kakongo e Ngoyo com o que se lê em A Bíblia tinha razão, quando se fala das tumbas Reais de UR.
«... No interior das câmaras tumulares puderam verificar a presença de autênticas juntas de bois: os esqueletos de animais de tracção estavam ainda jungidos aos carros cheios de artísticos utensílios caseiros (o traçado é nosso). Era evidente que todo o séquito do funeral tinha seguido os magnates no caminho da morte, como davam a entender os esqueletos festivamente vestidos e carregados de adornos que os rodeavam. A tumba de Lady SHUB-ad continha vinte cadáveres. Noutras apareceram mais de setenta.
... Nenhum vestígio demonstrava que os homens tivessem morte violenta. Os respectivos séquitos parecem ter seguido os seus defuntos soberanos em caravana festiva, com os bois jungidos aos carros portadores dos tesouros dos defuntos ... »
( Werner Keller, A Bíblia tinha' razão, trad. de Vasco, Mirando, Ed. Livros do Brasil, Lisboa, pág. 32.)
Também entre os Bakongo, Bauoio, Balinge, etc., etc., são deixados, sobre os túmulos, objectos que serviam em vida ao falecido, v. g. bacias, jarros, potes, e até, por vezes, camas de ferro...
Os grandes de Cabinda possuíam, desde o tempo da permuta com os europeus, óptimas coisas que lhes eram oferecidas como prémio ou em paga de escravos fornecidos. Por outro lado, sendo as gentes do litoral do País de Cabinda muito viajadas a bordo de barcos, adquiriam magníficas coisas por onde passavam, especialmente loiça.
Também as compravam nos estabelecimentos comerciais portugueses, ingleses e holandeses.
Essas loiças iam, muitíssimas vezes, parar à sepultura de seus donos agora enterrados. Para lhes servir do outro lado?
Mas, para não servirem aos vivos, desbeiçavam essa loiça ou lhe quebravam as asas ou as furavam.
...diz J. Cuvelier, a morte de um homem apresentava-se aos sobreviventes como uma ameaça. Ele podia vir, conforme se pensava, a uma casa buscar um objecto, e algumas vezes falar e mostrarse. Por isso colocavam sobre as campas, para uso dos mortos: frascos, potes, bacias, garrafas, pratos, Copos...
(J. Cuvelier, op. cit., pág. 114. )
Esta consideração, veneração pelos mortos, misturada não com pouco temor, ainda se manifesta nos dias de hoje pela prática do NUIKINA BAKULU, o dar de beber aos velhos já falecidos.
Para isso levam ao cemitério, sobretudo em dias de grandes festas anuais - Natal, Ano Novo, aniversário do falecimento - bebidas, v. g. aguardente, bagaceira, vinho tinto e até vinho de palma, e derramam-nas nas campas dos seus velhos falecidos.
Fazem ordinariamente um buraco na campa e por ele vazam as bebidas que trouxeram.
É tudo para o morto ou mortos. Eles nada devem beber, os que vão dar de beber aos seus maiores já mortos, do que levam.
...Uma grande parte das pessoas que tomaram parte no funeral voltava à aldeia, ao local onde se dera a morte do que fora a enterrar. E aí, durante a noite e até ao dia seguinte, se entregavam à dança, aos comes e bebes.
Tudo realizado, « ficavam os membros da família com a consciência plena do dever cumprido».
Pode-se imaginar, pois, o quanto sa exigia de gastos para se fazer tal enterro. E compreende-se por isso o tempo que os mortos tinham de ficar no «defumadoiro» até que se juntasse, tudo o que era necessário para o funeral.
Grande parte de toda esta grandeza e gastos, depois da lei das 24 horas para enterro, são feitos na festa do MPOLO ou NZIMBU.
Esta espécie de funerais tanto se fazia a indivíduos do sexo masculino como do feminino, contanto que tivessem posses e fossem grandes da terra.
...As mulheres da aldeia que se juntam em redor do morto, ao mesmo tempo que acompanham o canto lúgubre e chorado, para não perderem todo o tempo, vão descascando amendoim, partindo coconote, migando folhas de mandioca, etc., etc.
As esposas, nos três dias seguintes à morte do marido, dormem na terra nua. Passam o tempo a chorar. Não lavam a cara, mas só os dentes e os olhos.
No dia do enterro do marido, um cunhado ou cunhada rapa-lhe o cabelo da cabeça. Assim devia ficar, sem mais o cortar, até quase ao levantar do luto, um ano depois.
Para que a viuva possa voltar a cortar o cabelo é preciso que a família do marido lhe pague dois panos e uma blusa preta. Se lhe não pagassem teria de ficar sempre sem cortar o cabelo.
É também só depois disto, do corte do cabelo, que será para o fim do luto, que poderá começar a pensar em arranjar outro homem, se quiser. Se procurar marido antes, terá de responder perante a família do marido falecido e não lhe perdoarão facilmente sem pagamento de multa.
Já muito depois de termos escrito o que aí fica sobre mortos e funerais, fomos encontrar em Portugal de Á frica, 1.a Série, 1896, na Chronica das Missões - Missão de Landana, a descrição seguinte:
« No entretanto, fazem-se os últimos serviços ao defunto; tosquiam-lhe a cabeça e limpam-lhe as unhas das mãos e dos pés.
Assim o exigem os costumes. Enterrar alguém sem estas prévias formalidades seria uma grande vergonha para a povoação.
Depois de bem lavado o cadáver, vazam-lhe as entranhas; em seguida, acendendo por debaixo d'elle um fogo brando mas contínuo, que deita um fumo excessivamente espesso, começam a seca-lo como pergaminho. Assim que está suficientemente defumado, cobrem-no de uma camada de terra vermelha e expõem-no ao ar durante alguns dias, ficando ao lado d'elle uma ou duas pessoas com o único fim de enxotar as moscas. Quando o cadáver está completamente seco, envolvem-no numa prodigiosa quantidade de fazendas. Avalia-se a riqueza dos herdeiros pela qualidade dos estofos e o seu afecto pela morto, pela grossura do rolo. Os cadáveres dos grandes chegam a atingir oito ou nove metros de circunferência.
Expõe-se a múmia assim vestida em uma cabana especial, onde fica mais ou menos tempo, conforme a posição social que o finado ocupava.»
Em sinal de luto, em outros clãs, pintam a cara com negro de fumo tirado das panelas ou com a casca queimada, semelhante a cortiça, do kilolo-kintandu - Anonna arenaria.
Havia quem pintasse somente a ponta do nariz. Conhecemos uma mulher, da aldeia de S. João do Lukula, que, dois anos depois da morte do marido, ainda pintava o nariz em sinal de luto.
A gente do clã desta aldeia - basundí - tinha ainda outros usos, como o seguinte: Morrendo o homem, a mulher fazia uma pequena rodilha que amarrava ao fio que trazia à cintura - lukietu.
No dia do enterro enche de água uma pequena cabaça - Kisasava - e toma um pequeno mutete - pequenito cesto - onde coloca a cabaça com água. Acompanha um pouco o féretro quando o morto vai a enterrar; tira a nka-kata, a rodilha, do lukietu e coloca-a por cima do caixão. A cabeça leva o tal mutete com a cabaça. Com uma sacudidela de cabeça - kulumba - atira ao - chão o mutete e a cabacita. Volta-se de costas para o defunto e vai, então, banhar-se.
Logo após o enterro, ou poucos dias depois, e isto ainda em toda a parte, todos os parentes se reúnem para que o pai, mãe, esposa ou marido ou tios, isto é, o mais próximo responsável pelo defunto, diga e prove se sim ou não fez todos os possíveis e procurou todos os meios aconselháveis para evitar a morte.
Em certos clãs, morrendo a mulher, a família desta era obrigada a devolver todo o zimbongo zimakuela, sobretudo se não ficaram filhos e não há cunhada que deseje casar com o viúvo.
Entre noivos ou - comprometidos já com o casamento, falecendo a noiva, a família da rapariga é obrigada a devolver ao rapaz tudo quanto dele recebeu.
Durante um mês, ou ainda mais, de manhã e à noite, a família, sobretudo a parte feminina, pranteava oficialmente o falecido. Guarda-se luto pelo cônjuge falecido ou pelos pais um ano inteiro.
Os homens usam já o fumo no braço e no chapéu ou capacete.
As mulheres usam panos pretos ou bastante escuros, com flores ou pintas pretas e escuras.
Em certas regiões conhece-se se alguma mulher anda de luto vendo que trás o pano a tiracolo e seguro com um nó, dado por cima do ombro esquerdo.
Vimos outras que indicavam andar de luto amarrando em volta da testa uma banda de pano - ntanta mambudi.
A viúva, passado o tempo de luto, no aniversário da morte do marido, veste-se de panos novos e berrantes. Nesse dia de aniversário, o primeiro, faz-se sempre uma festa maior ou menor.
Se a viúva não passou à posse de seu cunhado mais velho, torna-se livre para procurar pretendente ou para seguir a vida de metretriz - ndumba.
Os funerais dos católicos têm, tanto quanto possível, a presença do sacerdote ou, pelo menos, sendo em aldeias distantes, a do catequista da aldeia.
Sequem para o cemitério em grande compostura. Rezam.
Nos enterros presididos pelo sacerdote, mesmo depois de benzida e aspergida a sepultura, não deixavam de apanhar a caldeirinha e enfiar com toda a água dentro da cova...
Depositado o morto na cova, cada um dos assistentes deita, sem excepção, um punhado de terra sobre o caixão. Pudemos ver isto todas as vezes que presidimos a funerais na Missão do Lukula.
Em Olumbali do Distrito de Moçâmedes, Lopes Cardoso escreve também a respeito desses povos: "Colocado o caixão', cada um dos presentes atira um punhado de terra para cima dele, em despedida"
Na Missão de Cabinda, no primeiro aniversário do falecimento de alguém, é raro não haver, por alma do defunto, missa cantada de Réquiem e procissão ao cemitério.
E acaba-se assim o luto nesse dia. Não é, nos tempos de agora, por funerais com carros, cobertores sem número, comidas e bebidas na altura do enterro que se procura mostrar a dignidade e riqueza dos mortos e de suas famílias. É, sim,' pelas festas de MPOLO - de cada vez mais raras-e pelas artísticas, e caras, sepulturas sobre as campas dos grandes senhores. Entre seis a oito contos ficam agora essas sepulturas.
As festas de MPOLO também não ficam baratas, mas certamente que o são muito menos do que as festas dos antigos funerais.

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