UAFU ZÁ-KUÍZA
(o vai e vem da morte).
Para o povo Bantu a alma faz dupla com o homem, um ser com kilunji (inteligência) que encarna no ku mukutu (corpo) .
(o vai e vem da morte).
Para o povo Bantu a alma faz dupla com o homem, um ser com kilunji (inteligência) que encarna no ku mukutu (corpo) .
O corpo nasce, morre e apodrece, enquanto a inteligência deixa o corpo no momento de expirar, é o muikua (o hálito quente, a vida, a alma).
O muikua ao deixar o corpo, vai direto para o criador que está na SANZALA KASEMBE DIÁ NZAMBI (Aldeia ou Reino Encantado de Deus).
Tratando-se de muikua de criança, este será devolvido por NZAMBI, porque para o Bantu, somente reencarnam espíritos de infantes e em pessoas da família.
As crianças quando morrem são enterradas com a face voltada para o Oriente, para que o Sol que nasce todos os dias traga a sua alma de volta o mais rápido possível. Quanto aos adultos, são enterrados com a face voltada para o poente (reino dos mortos), para que cheguem mais rápido em SANZALA KASEMBE DIÁ NZAMBI, onde são recebidos pelo Criador.
Só ficam em Sanzala Kasembe Diá Nzambi os que têm muxima puena, (bom coração) qualquer que tenha sido a sua condição em vida. Não entram em Sanzala Kasembe Diá Nzambi os que têm muxima uaíba (mau coração). Ex.: suicidas, assassinos, etc. Estes, serão devolvidos e transformados em espíritos malignos. Alguns serão condenados, uma vez nascidos, à reencarnar em qualquer animal irracional. Alguns não se conformam e ingressam na sociedade (DIANDA) de UAFU ZÁ-KUÍZA.
Nesta sociedade os Uafu zá-kuíza ou UFUNJE fazem um pacto com MULUNJI MUJIMU (ventre ruim) de provocarem a morte das crianças em que encarnarem, ou seja, provocando seus próprios abortos, transformando o ventre dessas mulheres em ventre ruim.
Esses espíritos escondem-se em MPAKU (buracos nos troncos das árvores, tocas), e quando uma mulher em fase de menstruação passa, eles se infiltram no útero, e no momento da fecundação alojam-se no embrião.
Depois de muitos abortos o casal procura o 'NGANGA A NGOMBO' (adivinhador), que descobre a presença de Uafu zá-kuíza e encaminha a mulher para o KIMBANDA (feiticeiro), especialista no MUSAXI, (culto específico a Uafu zá-kuíza.)
Para garantir o nascimento, o KIMBANDA MUSAXI e o NGANGA NGOMBO conseguem a concordância do espírito em nascer e continuar vivendo, e através de rituais, descobrem o dia certo em que ele iria morrer, dando-lhe um nome sugestivo e de permanência na Terra. Um nome que seja a negação da morte, que é a principal quebra desta KIJILA(abstenção) , criando um novo pacto, e cortando a ligação com MULUNJI MUJIMU.
O pacto criado é para dar força ao espírito. Quando encarnado ele nascerá como qualquer criança e viverá o período normal.
Perto dos pés da cama onde a mulher dorme será assentado um NKISI TUHEMBA (Nkisi Ancestral) , de aproximadamente 20cm. Este HAMBA (divindade) pertencerá e será herdada pela família, principalmente pela pessoa que nasceu Uafu Zá-Kuíza.
Durante todo o tempo da gravidez a mulher terá amarrado ao corpo um NGOMBO e outras peças, e também um pequeno sino de nome KAGUNGA, no lado esquerdo. Tomará muitos banhos, jogando muita água do banho na barriga e depois passando no corpo, pemba e MUKUNDU (pós sagrados) .
Ao nascer, colocam-se sinos amarrados com pele nos tornozelos, e é feita uma cisão no seu corpo, introduzindo MAFU (pó sagrado) e colocando este mesmo pó dentro do KAPURI, que será colocado no pescoço da criança e usado até a idade em que possa entender as pessoas, até nascer outro irmão.
Este espírito que no passado não chegou a NZAMBI, terá nova chance de ser eleito, de merecer, ou então estará perdido, voltará a encarnar em animais ou será devorado por MUJIMU, que certamente cobrará o pacto não cumprido.
Na época da deportação dos negros africanos para outros continentes, quando engravidavam as negras africanas que viviam subjugadas pelos açoites, sofrendo todos os tipos de torturas físicas e morais, e ainda perseguições, pediam aos seus Jinkisi que seus filhos ainda no ventre não nascessem vivos, para não sofrerem os horrores da escravidão.
Então os seus Pambunjila, Nkisi do mutué ou Kitembu (Tempo - vento encantado) arrebatavam o feto ainda no ventre materno. Essas espécies de vida sob determinado encantamento surgiram com o nome de EBULIN.
PRIMEIRO ENCANTO: EBULIN
Conta-se que a negra INDAIÁ BELEGUIN pariu um filho, e para que não sofresse as dores da escravidão ofereceu-o ao rei do mar, MUCHINO KALUNGA, colocando-o num cesto e depositando-o em suas sagradas águas, e toda a noite a negra ficou cantando e rezando os seus encantos.
Depois, não tendo mais lágrimas, adormeceu no mesmo lugar, de tão exausta. Quando acordou na manhã seguinte deparou com a cesta a seu lado, e dentro dela, em vez de seu filho, achava-se EBULIN, com seu formato de majestoso peixe, possuindo contudo a cabeça e os bracinhos de seu amado filho, sendo o resto do corpo em formato de peixe negro e brilhante.
EBULIN é um erê encantado de KITEMBU POLOKUN, não vira nas matérias, gosta de comer canjica branca cozida, temperada com dendê, peixe de escamas em geral, bebe aguardente com mel e algas marinhas socadas.
Quando fêmea, EBULIN come franga branca e quando macho frango branco, cesto com frutas variadas, que deve ser colocado em rio de águas limpas ou mar.
EBULIN combate todos os tipos de maldade e covardia.
OBS.: Quando se deposita uma obrigação para EBULIN diz-se, entre outras, as seguintes palavras: "Negro está sofrendo, castiga fulano de tal, e povo está precisando, HÓ! EBULIN, HÓ! EBULIN, HÓ! EBULIN.
Quando EBULIN for utilizado deve-se oferecer uma obrigação para KITEMBU POLOKUN, composta de frango arrepiado, (sacrificar), frutas, doburu com coco, canjiquinha amarela cozida com leite de coco e açúcar coberta com coco ralado, batata doce cozida regada com mel, acaçá branco e amarelo, feijão preto cozido (pouco cozido, meio duro tipo salada) com camarão temperado com cebola ralada e dendê, bolas de inhame e bolas de tapioca, bolas de abóbora, etc.
SEGUNDO ENCANTO: IMBUIM
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IMBUIM é um encantamento de KITEMBU ZALÚ. Este KITEMBU rege os odores fétidos.
IMBUIM tem a aparência e um besouro e tem como moradia o interior de árvores ocas. Quando da metamorfose também tem o formato de um homem de cor negra, baixo, forte, com um só olho no centro da testa, e muito cabeludo.
Este encantamento do Ngola tem medo do sol e da claridade em geral. Se alimenta de carne podre, cachaça, recebendo também oferendas de moedas antigas. O coco azedo é um de seus pratos prediletos.
As cores de IMBUIM são vermelho e preto. Sua vela, quando houver necessidade, deve ser de cor preta.
Este encanto é muito inteligente e perigoso. Gosta de enganar os outros, tornar as pessoas inimigas, trazer esquecimento e amnésia, esconder documentos.
Quando houver necessidade de executar trabalhos com IMBUIM deve-se primeiro fazer sacrifício animal para KITEMBU ZALU, acompanhado de frutas regadas com mel e comidas em geral.
TERCEIRO ENCANTO: ISSASSERIN
É uma borboleta negra, encanto de KITEMBU APOKAN, Tempo este que rege a noite, principalmente nos domínios de Katende.
Quando ocorre a metamorfose ISSASSERIN tem o formato de uma menina de pele de cor negra, de aproximadamente 70 cm, com 2 asas alongadas. Encontra-se normalmente sentada em árvores frondosas, em noites de lua cheia.
Segundo relatos de antigos moquetões africanos, legítimos de Angola, ISSASSERIN adora a lua cheia como se fosse sua própria mãe.
Este encanto gosta de fazer travessuras com pessoas que gostam de andar na mata à noite. Uma de suas traquinagens é a de fazer crianças se perderem.
Se ISSASSERIN em forma de borboleta pousar sobre um recém-nascido, esta fatalmente morrerá.
Nas noites de lua cheia pode-se ouvir à distância o choro triste de ISSASSERIN.
Este encanto gosta de flores do campo em geral, espelho, pente, perfumes, frutas não cítricas com mel.
Dizem as evidências que um pedido feito a ISSASSERIM, quando bem efetuado, é fatal na concepção da palavra. Sua atuação estende-se pelas matas, rios, céu e terra.
Resolve com impressionante rapidez quase todos os problemas que lhe são apresentados.
QUARTO ENCANTO: APAN
APAN, mulher da cintura para baixo e uma ave da cintura para cima, é um encanto de KITEMBU OSSIN, um Tempo ligado à procriação animal, segundo explicações do africano Tata Kobussú, da Raiz de Zumbá, do bairro da Liberdade, Estado da Bahia, ainda na época da escravidão.
Lenda de APAN:
Segundo mitos, APAN foi mulher leviana, que copulou com muitos homens e alguns encantamentos, sendo que isso lhe dava prazer e a divertia muito.
Por seu comportamento foi amaldiçoada por Lemba, que lhe disse a seguinte sentença: "POQUI GILÁ MONPÁ " que quer dizer: Eu lhe condeno a ser um animal.
Devido a essa maldição APAN carregou em seu ventre todas as espécies animais, parindo-as e povoando dessa forma toda a terra. Envergonhada com sua maldição APAN habita as ilhas mortas, escondendo assim sua própria vergonha.
Em suas oferendas APAN aceita somente bichos machos e assim mesmo, da cintura para baixo, com os respectivos axés. Por exemplo: se lhe oferecer um galo, sacrifica-o e oferece-se a menga, o peito, as patas e o rabo, devendo os animais sacrificados ser brancos, como prova de purificação.
O encanto de APAN abrange um vasto domínio, podendo fazer tanto o bem como o mal, com a mesma força, intensidade e rapidez.
APAN é um encantamento responsável pela vida animal, porém atua magnificamente nos seres humanos.
O termo e o conceito banto de UAFU Za-KUÍZA totalmente desconhecidos pelos adeptos do Angola Kongo,pode ser literalmente traduzidos como o vai e vem da morte,correspondendo com algumas diferenças dos abiku dos yorubás.
Foram criados inúmeras crendices absurdas à esse respeito, sofrendo uma adaptação calcada no absoluto desconhecimento de sua fundamentação original, sendo comum encontrarmos pessoas que afirmam ser abiku por isso não tendo necessidade de serem raspados, catulados e pintados,e se considerando iniciados ou muzenzas, com afirmações de absoluta certeza oferecendo desta maneira a sua real ignorância ao assunto a que afirmo!
Mesmo superficialmente para ludibriar, tirar proveito de pessoas se envolvem em seu esquema tão bem elaborados para ilustrar a sua ignorância e desonestidade criaram em torno do fenômeno discrepâncias para serem respeitados como portadores do fenômeno, para se auto denominarem muzenzas, mametos e tatetos, justificando a ausência dos sacrifícios em seu mutue.
As circunstancias reais dos que sofrem o problema do UAFU Za-KUIZA, são pessoas que em sua gravidez sofreram a interferência de espíritos que não são de importância com o seu estado, Existe uma série de procedimentos dentro da cultura de nossos reais antepassados que com fundamentos que envolvem até o recolhimento, com fundamentos diferenciados ao utilizado nas feituras de muzenzas, o que se subtende que os tais abiku não podem e não são considerados feitos!
O investimento dado as mães portadoras dos UAFU Za-KUIZA ou seja abiku, tem a única finalidade de salvar a verdadeira realidade da agressão desses espíritos ao feto das grávidas atacadas por esses espíritos,para que eles sejam salvos e tenham uma vida normal e prolongadas com as vontades de Nzambi!
Muito se poderia falar sobre o assunto e o ritual empregado para tal empenho mas, o conteúdo destes fundamentos são por demais longos,e sem necessidade de sua publicação nesse tópico,que tem por finalidade desmascarar aqueles que não passaram pelo sacrifício por se auto intitular um abiku!
Essa pesquisa com a sua total publicação e na íntegra fundamentada, foi nos presenteada pelo professor TATA NLUNDI, históriógrafo e etnógrafo da África Bantu, a quem agradecemos esse tesouro de esclarecimento!
Texto copiado da comunidade “CONVERSA DE ANGOLEIROS”
http://www.orkut.com.br/Main#CommMsgs.aspx?cmm=16849174&tid=2505301228182113279
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