terça-feira, 6 de janeiro de 2009

O IMPÉRIO LUNDA


O IMPÉRIO LUNDA

O chefe Nkond tinha três filhos e duas filhas, das quais a mais nova se chamava Ruwej(Lueji). Ao chegar um dia à aldeia, depois de uma caçada, os filhos varões de Nkond encontram o pai a tecer uma esteira tendo a seu lado uma bacia de água usada para embeber as fibras. Tomando a água, de aspecto leitoso, por vinho de palma, os filhos, sedentos, pedem ao pai que os deixe beber. Nkond recusa dizendo tratar-se de água mas os filhos, que se pensam enganados, reagem violentamente agredindo o pai. Ruwej(Lueji), tomando conhecimento do acontecido, vem imediatamente em seu socorro. Em consequência deste episódio Nkond deserda esses filhos e decide que o símbolo do poder chefal, (o bracelete sagrado RUKAN (Lukano), bracelete de tendões humanos, guardado numa cesta purificada com caulino branco, que é o símbolo máximo do poder ancestral), será transmitido à sua filha Ruwej (Lueji) e não aos seus filhos varões.
Após a morte de Nkond, Ruwej passa a governar com o auxílio dos seus parentes mais próximos. Reina a paz. Um belo dia, contudo, chega às terras da princesa um exímio caçador estrangeiro, vindo, com os seus companheiros, das terras dos vizinhos luba. O caçador, que se apresenta como Cibind Yirung, (Cibinda Ilunga)(filho do 1º rei de Luba, Kalala Ilunga) é convidado por Ruwej(Lueji) a partilhar vinho de palma com os anciãos da aldeia mas, para espanto de todos, o estrangeiro recusa beber em público. A noite cai e Ruwej(Lueji), já apaixonada pelo jovem e belo caçador luba, convida-o para sua casa. E assim, não obstante a animosidade dos parentes de Ruwej para com Cibind Yirung (Cibinda Ilunga), os dois não tardam a casar. Durante uns tempos a população vive em harmonia. Contudo, um dia, a quando do seu período menstrual, Ruwej (Lueji) decide doar o bracelete do poder a Cibind Yirung (cibinda Ilunga). Os irmãos e primos da princesa revoltam-se com esta decisão e, não se submetendo ao poder nas mãos de um estrangeiro, abandonam Ruwej e as suas terras, provocando um movimento migratório do qual resultaria a formação de novos estados.
Como Ruwej(Lueji) não fosse capaz de procriar, (era estéril) Cibind Yirung (Cibinda Ilunga) contrai outro matrimónio com uma parente da princesa, de nome Kamong (Kamungua). Desta segunda união nasce um único filho, Yaav, o qual receberia o bracelete do poder e o título de Mwant Yaav, fundando assim a realeza ruwund.
Fonte: Comunicação apresentada na Universidade do Minho em junho de 1998, no âmbito da 1ª jornada de antropologia intitulada “Modernidades, Etinicidades, Identidades
Manuela Palmeirim – Universidade de MInho
Identidade e heróis civilizadores: “I’Empire lunda e os aruwund do Congo https://repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/5319/3/Identidade+e+heróis.pdf

Leiam também “As duas faces de Ruwej” por Manuela Palmeirim
https://repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/5353/3/As+duas+faces+de+Ruwej.pdf